Por Suelen Schneider Demaría
Entenda como está a diversidade de gênero nas empresas brasileiras e quais os resultados que a maior equidade pode trazer.
Segundo o estudo recente da SpencerStuart, Brasil Board Index 2021, a participação das mulheres nos conselhos de empresas brasileiras dobrou nos últimos anos, passando de 7,2%, em 2015, para 14,3%, em 2021. Atualmente, 65% das empresas têm pelo menos uma mulher em seu conselho administrativo, o que representa um crescimento ligeiramente superior a 50% em comparação a 2015. A expansão do número de mulheres em conselhos se deu por duas vias. A primeira é que mais empresas se abriram a ter mulheres em seus conselhos. A segunda é que as empresas que já tinham mulheres em seus conselhos aumentaram ainda mais a participação feminina.
Apesar dos ganhos recentes demonstrados por esses indicadores, a sub-representação das mulheres nos conselhos brasileiros ainda é um problema a ser tratado. O percentual médio mundial de mulheres em conselhos é de 27,1%, quase o dobro do brasileiro. Sem falar que somente 13,3% dos conselhos administrativos no Brasil tem pelo menos 30% de mulheres em sua composição, sendo que a média internacional é de 46,8%. Ou seja, uma média 3,5 vezes superior. Em um artigo da Harvard sobre liderança feminina, as pesquisadoras Alice Eagly e Linda Carli sinalizaram que condições de isolamento ou minoria comprometem o poder de voz e voto das mulheres. Por isso, não apenas o número absoluto de mulheres é relevante, mas também sua representatividade dentro de cada conselho.
Outro dado que chama a atenção em relação ao Brasil Board Index 2021 é a proporção de mulheres atuando como chair nos conselhos. Esse percentual caiu consistentemente nos últimos anos. Em 2019 era 7,3%, em 2020 diminuiu para 6,0% e agora está em 4,5%. Não basta ter mulheres nos conselhos, elas também precisam ter a oportunidade de exercer liderança para que exista equidade.
Por que precisamos elevar a diversidade de gênero nos conselhos?
Um estudo da Moody’s Investor realizado com empresas europeias e americanas, mostra uma correlação positiva entre o número de mulheres no conselho administrativo e o rating financeiro da organização. Além disso, outro artigo da consultoria McKinsey (2018), realizado com empresas listadas em bolsa de valores americana, mostrou que empresas praticantes da diversidade de gênero obtêm performance financeira em média 27% superior. Isso porque organizações que cultivam a diversidade são mais abertas aos diferentes pontos de vista. Elas entendam melhor seus colaboradores, clientes, a sociedade na qual está inserida, e criam um ambiente seguro e favorável às ideias inovadoras que potencializam seus resultados.
Mulheres também possuem um estilo de liderança valioso para o contexto atual de volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade. As mulheres que ocupam posições de liderança sênior (diretoria, presidência e até mesmo conselho) tendem a mentorar e patrocinar muito mais os colaboradores do que os homens na mesma posição, conforme sinaliza o relatório Womens in the Workplace 2021, da McKinsey em parceria com instituto LeanIn. Quando a gestão valoriza o ser humano, os colaboradores reconhecem essa atenção. E isso reduz a probabilidade de perda de talentos, aumenta a motivação e potencializa as chances de os colaboradores falarem positivamente sobre suas empresas.
Sally Helgensen, referência mundial em liderança feminina, menciona algumas das forças apresentadas por mulheres em posições estratégicas. A primeira é que elas tendem a inspirar, motivar e desenvolver as pessoas que estão no seu entorno. O fato de que as mulheres têm mais desafios ao conciliar vida pessoal e profissional do que os homens, faz com que elas entendam as diferenças, adotem uma postura mais colaborativa e defendam mudanças positivas. Elas também tendem a construir relacionamentos fortes, duradouros e baseados em confiança. Não significa que os homens não possam desenvolver tais características, apenas que elas são mais comuns em mulheres. Essa naturalidade faz com que a liderança feminina incentive diversidade de forma mais fluida.
Agora que sabemos disso, o que devemos fazer?
Sabemos onde estamos e o que ganharemos com a diversidade de gênero nos conselhos brasileiros. Entretanto, há significativamente menos mulheres preparadas para assumir posições em conselhos do que homens. O problema tem suas raízes no início da jornada para a liderança. A proporção de mulheres em cargos gerenciais é de 30 a 35%, cargos de diretoria são 20 a 24% e C-level ou presidência estão entre 16 e 20%. Os dados variam enormemente dependendo da fonte e dos critérios de pesquisa. Independentemente das oscilações, o fato é que as mulheres ascendem em menor proporção e de forma mais lenta em todos os níveis de lideranças. Ou seja, elas não estão conseguindo subir os degraus necessários para chegarem aos conselhos. Por isso, a pergunta que deixo para reflexão é: como incentivar de forma mais efetiva a formação de mulheres desde as gerências até os conselhos?
Sugestões de Leitura:
StuartSpencer (2021). Brasil Board Index 2021. https://wcdbrasil.com.br/wp-content/uploads/2021/09/Board-Index-Brazil-2021-Spencer-Stuart.pdf
Moody`s (2021). Rising focus on gender inclusion highlights links to economic growth and credit quality. https://www.moodys.com/researchdocumentcontentpage.aspx?docid=PBC_1266799
McKinsey e LeanIn (2021). Women in the Workplace 2021. https://womenintheworkplace.com
Alice Eagly e Linda Carli (2007). Women and the labirynth of leadership. Harvard Business Review. https://hbr.org/2007/09/women-and-the-labyrinth-of-leadership
Sally Helgensen. (2018) Como as mulheres chegam ao topo. https://www.amazon.com.br/Como-Mulheres-Chegam-Topo-alcançar-ebook/dp/B07XLNNHGF/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=ÅMÅŽÕÑ&dchild=1&keywords=sally+helgensen&qid=1633026074&sr=8-1
Suelen Schneider Demaría é especialista em estratégia, processos e supply chain, mestre em administração e doutoranda com foco em liderança e mudanças globais pela Pepperdine University, na Califórnia-EUA. Ela tem especializações internacionais pela University of Califórnia em Irvine, Indian Institute of Management Bangalore na Índia, Yale School of Management nos EUA e Koç Universiti na Turquia. Ocupou posições-chave em uma das maiores empresas do Brasil. Hoje é empreendedora, consultora e educadora na MultiConcept.